top of page

BRAQUETES AUTOLIGADOS – no que diferem? Qual a vantagem em utilizá-los na prática clínica?

INTRODUÇÃO
Braquetes autoligados têm recebido um grande destaque na
Ortodontia nos últimos anos. Inúmeros modelos de autoligados
foram desenvolvidos por quase todas as empresas produtoras
de materiais ortodônticos. É, portanto, muito compreensível que
questionemos a viabilidade e a vantagem de eleger esses braquetes
como opção de tratamento. Na tabela 1 estão listados os principais
braquetes autoligados comercialmente disponíveis na atualidade.
Todos apresentam características muito semelhantes e podem ser
genericamente divididos em dois grupos: o grupo de braquetes autoligados passivos e o grupo de autoligados ativos. No grupo de
braquetes passivos encontram-se os modelos que fecham a canaleta
do braquete por meio de uma trava que desliza na superfície
externa das aletas, transformando todos os braquetes em tubos,
criando quatro paredes nas canaletas, rígidas e passivas. No grupo
dos braquetes ativos, o fechamento se dá por um clipe que invade
uma parte da canaleta, em uma das paredes, superior ou inferior.
Estes clipes têm a característica de exercer certa pressão sobre os
fios mais calibrosos, normalmente superiores ao 0,018”. Existe ainda
um terceiro tipo, com clipes posicionados nas laterais de um
braquete com design convencional, mas que se enquadra no grupo
dos passivos, pela sua característica de atuação.
De forma interessante, os primeiros braquetes autoligados não
tinham a pretensão de causar baixa fricção. O primeiro modelo desenvolvido data de 1935, denominado Russell Lock. O pensamento na época era facilitar a inserção dos fios e diminuir o tempo de trabalho, pois os acessórios eram, então, soldados as fitas metálicas e amarrados um a um. Essa vantagem foi, entretanto, logo superada pela introdução no mercado das ligaduras elásticas, mais práticas e de mais rápida inserção.

Foto artigo2.png

Entretanto, ao eliminar o contato do material de amarração do
fio, o efeito imediato resultante é a redução significativa da fricção
na mecânica ortodôntica. Esta característica, entretanto, não
chamou a atenção dos ortodontistas da época, devido aos métodos
de tratamento, com pouca utilização de recursos de mecânica de
deslize.
Com o desenvolvimento dos braquetes totalmente programados,
por Andrews na década de 70, possibilitou-se a utilização de
arcos com menos dobras, tornando a mecânica mais simples e prática, compatível com a dinâmica moderna de atendimento aos pacientes, diminuindo o tempo de tratamento e atendimento clínico.
Entretanto, para a utilização do sistema de arcos contínuos, foram
necessárias modificações clínicas, para adaptação aos recursos
que os braquetes totalmente programados disponibilizavam. O desenvolvimento dos fios de níquel-titânio - que permitem grandes
deflexões, sem aumento significativo na tensão/carga acumulada
- para serem empregados no início do tratamento, permitiu que os
fios de aço inoxidável de baixo calibre, com alças de nivelamento,
pudessem ser substituídos e o sistema de arcos retos pudesse então
ser, efetivamente, utilizado.
Neste contexto, o atrito relacionado à resistência ao deslize
dos fios pelas canaletas dos braquetes passou a ser um importante
fator a ser considerado na mecânica e este têm sido o apelo das
empresas que comercializam braquetes autoligados. A pergunta
que é então levantada por muitos ortodontistas, ao compararem
as diferenças entre utilizar um braquete autoligado ou um sistema
convencional, é: Por que utilizar braquetes autoligáveis? Por que
não utilizar as ligaduras convencionais? O efeito na redução do
atrito é assim tão significativo na prática clínica?
A ausência de ligaduras e o baixo atrito resultante revelam novas
perspectivas na Ortodontia que, certamente, revolucionarão o tratamento ortodôntico.

REDUÇÃO DO ATRITO
Em Ortodontia, representa a força mínima necessária para que o dente inicie a sua movimentação, suplantando a tendência de permanecer em sua posição inicial, dada pela intercuspidação, contatos com dentes adjacentes, musculatura peribucal e pelo contato do fio com o  
braquete e com o dispositivo de amarração.

Com a reintrodução dos autoligáveis, têm sido freqüentementedocumentada na literatura a sua superioridade em relação aosconvencionais, no que se refere ao atrito gerado nas mecânicasde deslize.

Se temos o desenvolvimento de um sistema responsável por atrito extremamente baixo, automaticamente concluímos que a resistência à movimentação fica reduzida e isto repercute em vantagens como, por exemplo: necessidade de aplicação de força menor, mais compatível com a fisiologia do movimento dentário; diminuição dos efeitos colaterais de mecânica e menor tendência de perda de ancoragem - pois a resistência à movimentação com o emprego de dispositivos nos dentes de ancoragem não muda, mas a resistência dos dentes a serem movimentados diminui.

Essas vantagens geradas pela baixa produção de atrito,  proporcionam, por sua vez, outras possibilidades mecânicas, sobre as quais discorreremos a seguir.

INTENSIDADE DA FORÇA DE MOVIMENTAÇÃO

A primeira vantagem que se pode tirar desta característica, e que justifica a escolha de braquetes autoligados na prática clínica,é a possibilidade de redução na intensidade de força aplicada para gerar movimentação. Isto pode ser claramente explicado quando se observa que o atrito, tanto estático quanto dinâmico, é composto por forças opostas à força ortodôntica, que tendem a manter o dente sem movimento ou restringi-lo. Portanto, para que o movimento dentário ocorra, a força ortodôntica precisa ser de uma intensidade que ultrapasse a força de fricção ou as forças que a ela se opõem.

Sem atrito, ou melhor, com a grande redução na fricção, a força ortodôntica não precisa ser de mesma intensidade. Forças menores são suficientes para gerar movimento, porque a resistência diminuiu.

Diante das limitações do aparelho ortodôntico e da necessidade de se utilizar fios de maior calibre para controlar os efeitos colaterais da mecânica, a única forma de possibilitar a redução na força de movimentação é criar mecanismos que possibilitem a redução do atrito.

Quando, na prática, se soma o emprego de braquetes autoligados
com fios de alta flexibilidade, ou seja, com alto módulo
de elasticidade e que exercem limiares baixos de força, o efeito
é uma movimentação ortodôntica com níveis reduzidos de força.
A vantagem biológica que, teoricamente, decorre dessa conduta
é a criação de áreas de hialinização no ligamento periodontal em
menor número e extensão. Isso diminui o risco de perda óssea em
pacientes periodontais, com redução do periodonto de sustentação,
além de diminuir o risco de reabsorção radicular por excesso
de carga ortodôntica. A possibilidade de reduzir as áreas de

hialinização no ligamento periodontal produz, conseqüentemente, queda na intensidade de áreas de reabsorção à distância nas trabéculas ósseas. Esse fenômeno é traduzido, clinicamente, por maior velocidade de movimentação dentária.

Com a possibilidade de aplicar a magnitude adequada de força,aumentamos as chances de obter uma resposta adequada dos tecidos periodontais, causando movimentação dentária mais eficiente e rápida, repercutindo em diminuição nos efeitos colaterais e no tempo de tratamento.

EFEITOS COLATERAIS DO MOVIMENTO ORTODÔNTICO

Com forças mais suaves, o movimento ortodôntico tem a capacidade de gerar menores efeitos colaterais, reduzindo os momentos de inclinação criados, decorrentes da inevitável aplicação da força afastada do centro de resistência dos dentes, uma vez que o momento é diretamente proporcional à intensidade de força aplicada (M = F x D, onde M é o momento gerado, F é a intensidade da força e D a distância do ponto de aplicação da força até o centro de resistência).

MAIOR INTERVALO ENTRE AS CONSULTAS

Como mencionado, ao empregar fios de níquel-titânio termoativados,deve-se respeitar a forma prolongada de atuação dessesfios, mantendo-os em posição por mais tempo, não mais mantendoo protocolo clássico de troca mensal dos fios. Se uma seqüência deaumento no calibre do fios for realizada com esse tipo de liga, asprimeiras consultas terão o tempo de troca dos fios aumentado,bem como o intervalo entre as consultas. Essa conduta tambémcontempla as mudanças tecnológicas que a Ortodontia tem sofrido.Grande número de ortodontistas utiliza materiais recentementedesenvolvidos, de alta tecnologia, mas continua aplicando a mesmaforma de atuação de muitos anos atrás, relutando em mudar.Ao contrário do que muitos podem pensar, o aumento no intervaloentre as consultas agrada ao paciente, em vez de desagradá-lo, e ocontrole do tratamento não é perdido. Pois, se o planejamento forpreciso e adequado para cada caso e a conduta clínica seguir umprotocolo bem desenhado e detalhado - com definição antecipadade cada etapa do tratamento, do tipo de prescrição selecionada edos acessórios - até a fase de finalização, não há como ocorrerem“movimentos indesejados”.

Liliana Maltagliati

®2025Liliana Maltagliati // Todos os direitos reservados

Abor
WFO
ung
SPO
Abralo
crosp
bottom of page