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Desmistificando a utilização dos stops
no sistema autoligado

INTRODUÇÃO
Desde que o aparelho Straight-Wire começou a ser utilizado,
na década de 70, a ausência de dobras e alças nos
arcos trouxe uma ocorrência muito comum durante a fase
inicial do alinhamento e nivelamento, que é o deslocamento
do fio na arcada dentária, sobrando de um lado — ferindo
a mucosa do paciente — e faltando do outro lado, muitas
vezes escapando do tubo do molar.
Essa ocorrência força o ortodontista a realizar a dobra distal,
no final do arco. Especialmente no Sistema Autoligado,
isso se torna um problema, pois o fio tem ainda mais tendência
de deslizar, devido ao baixo atrito. Por se tratar de um sistema
que utiliza ligas termoativadas, o ideal é que esses não
sejam dobrados nas extremidades, pois precisariam ser destemperados, o que pode prejudicar a propriedade desses fios.
Assim, para transpor essas dificuldades, utilizam-se pequenas
extensões de tubos telescópicos, com 2 a 3mm,
denominados stops, posicionados em algum lugar do arco
ortodôntico para evitar que o fio deslize inadvertidamente.
Na maioria dos casos, esses stops são, geralmente, posicionados
na linha média, pois nessa região não prejudicam o
alinhamento e nivelamento dentário.
Entretanto, é importante salientar que, se posicionado
fora da linha média, ele poderá atrapalhar, ou até ajudar,
a mecânica, uma vez que, ao impedir que o fio deslize, ele
pode funcionar como uma alça ômega ou uma dobra distal,
ou mesmo facilitar que o fio provoque protrusão e expansão
maior em determinada região. Para melhor entendimento
dessa mecânica, discorreremos sobre as possíveis regiões
onde os stops podem ser utilizados.


FORMA DE UTILIZAÇÃO DOS STOPS
1. Stops na linha média

Quando utilizado na linha média, o stop não tem outra
função senão a de evitar o deslocamento do fio. Ele não irá
auxiliar em nada na mecânica, mas também não atrapalhará.
O stop nessa posição não tem nenhuma capacidade de
causar qualquer efeito sobre a arcada dentária, como evitar
a protrusão dos incisivos, por exemplo. O que determina a
protrusão ou não dos incisivos é a quantidade de apinhamento
e extrusão dos mesmos (curva de Spee).

Quando posicionados dessa forma, nos casos de apinhamento sem abertura prévia de espaço, haverá incorporação de fio para incluir todos os dentes. Essa sobra de comprimento deve ter liberdade para correr para distal conforme os dentes são alinhados e nivelados. Por isso, o stop na linha média é importante, pois não atrapalha esse deslize. 

2. Stops na lateral das arcadas dentárias
Na lateral das arcadas dentárias, os stops podem ser
utilizados unilateralmente ou bilateralmente. Dependendo
do caso, os efeitos esperados são distintos. Quando utilizado
unilateralmente, o stop vai permitir que o fio deslize
apenas de um lado, perdendo comprimento. Porém, do
outro lado o deslize posterior fica impedido. Se houver
apinhamento do lado onde o deslize está impedido, o excesso
de fio provocará maior vestibularização dos dentes
apinhados, que têm uma resultante anterior, provocando
aumento transversal e de profundidade da arcada nesse
lado; enquanto do outro, o fio desliza livremente. Os casos
beneficiados com essa mecânica são aqueles em que o
apinhamento é maior de um dos lados da arcada e apresenta
desvio de linha média para esse lado, mostrando,
claramente, o aspecto de constrição da arcada no lado
apinhado e normalidade no lado oposto.

Quando utilizado de forma bilateral, o efeito de expansão
e protrusão ocorrerá em ambos os lados. Isso é benéfico
para casos em que a protrusão anterior é desejada,
pois o fio ficará impossibilitado de deslizar para posterior.
Utiliza-se, portanto, o comprimento de fio aumentado,
para forçar maior vestibularização dentária. É o caso de
birretrusões, tratamento compensatório do padrão Face Curta e, principalmente, casos de sobremordida acentuada, 
onde a reversão de curva de Spee está indicada.

Para obter esse efeito, é importante que os stops sejam posicionados bilateralmente, atrás da região de apinhamento: na mesial dos segundos pré-molares ou dos primeiros molares. Assim posicionados, esses stops têm o mesmo efeito de um fio de aço com ômegas, deixando sobrar comprimento de fio anterior para protrusão.

3. Stops no final do arco, mesial ou distal ao tubo dos primeiros
molares.

Essa forma de posicionar os stops deve, de preferência,
ser utilizada sempre bilateralmente. O objetivo aqui é dar
ao fio de níquel-titânio a possibilidade de limitar seu deslize
para posterior (efeito ômega) ou anterior (efeito dobra
distal), que normalmente só é permitido nos fios de aço, devido
à baixa formabilidade das ligas de níquel-titânio. Assim,
podemos limitar o aumento precoce do perímetro da
arcada, controlando o efeito protrusivo, quando assim estiver
indicado, colocando dois stops — um de cada lado na
distal dos primeiros molares, quando os segundos estiverem

colados, ou na distal dos segundos pré-molares, quando o
fio terminar nos primeiros molares.

Salienta-se que esse posicionamento dos
stops pode ser utilizado não só nos fios flexíveis do início do
tratamento, mas também nos fios de aço, inclusive retangulares,
quando assim for desejado.

4. Outras formas de aplicação dos stops

Pensando que o posicionamento dos stops de cada lado do arco delimita seu perímetro, ou seja, o comprimento do fio compreendido entre os dois stops não muda, podemos pensar em utilizá-los de forma a manter um comprimento determinado de fio. Por exemplo, se temos um espaço edêntulo que desejamos manter durante o alinhamento e nivelamento dos dentes adjacentes, caso haja alterações de angulação ou apinhamento desses dentes, eles tenderão a ocupar o espaço edêntulo disponível. Assim, se posicionarmos dois stops— um na mesial do dente posterior ao espaço e outro na distal do dente anterior ao espaço —, faremos o efeito de “laceback” nesses dentes, com o objetivo de impedir sua migração para o espaço disponível.

O mesmo pode ser obtido quando temos um dente muito
deslocado do rebordo alveolar devido a um forte apinhamento, porém, desejamos preservar o espaço para posteriormente trazê-lo à arcada. Os stops posicionados justos nos dentes adjacentes, voltados para o espaço, provocam a manutenção
desse espaço. Se podemos pensar em manter um espaço na
arcada com stops, podemos pensar também em manter espaços
fechados, de dentes recentemente movimentados, como
nos diastemas ou nos casos de extrações e/ou desgastes.
Posicionados dessa forma, eles têm o mesmo efeito de
um amarrilho conjugado, com a vantagem de deixar o aparelho
mais limpo, livre de fios por cima ou por baixo dos
braquetes, facilitando sua higienização. Também têm a vantagem
de não “afrouxarem” ou apresentarem diferenças de
pressão dependendo da torção do amarrilho. Algumas vezes,
em fios redondos, se torcidos de forma intensa, pode-se inclusive
provocar pequenas rotações nos dentes posicionados
na extremidade do conjugado, ocorrência que não acontece
com os stops.

Liliana Maltagliati

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